Nos últimos tempos, a típica chuva inglesa havia cedido a sua vez ao incessante fogo que a Luftwaffe fazia precipitar sobre terras britânicas.
Os aviões alemães castigavam Londres, Gales e outras terras mais. O Blitz cheirava a morte e a destruição.
Liverpool, a cidade da estiva, não escapara àquele terrível fado. Severamente punida, as suas docas porfiavam pelo fim da guerra.
São seis e meia da tarde do dia Nove de Outubro de Mil Novecentos e Quarenta. A enfermeira pede a Julia para que faça força. Julia não responde. Arfa. A enfermeira insiste. Julia, enchendo-se de vontade, assente. Por entre rebentamentos de bombas, mais ou menos longínquos, escuta-se, ali, o choro de um novo inquilino do mundo dos vivos. E essa banda-sonora, agradável por todas as circunstâncias, é a esperança que cala a macabra música de fundo.
– É um rapaz!, diz a enfermeira a Julia.
Julia, ensopada pelo seu próprio suor, pede para ver o menino. A enfermeira mostra-lho, mas não há tempo a perder. Os bombardeamentos sucedem-se, há que tomar precauções. Coloca o bebé numa cesta minimamente apetrechada, depositando-a debaixo de umas camas.
Aquele bebé, que ali, na Maternidade de Liverpool, respirava ares de conflito, era John Lennon.
Nota: Título inspirado na obra de Gabriel García Márquez.