Críticas Cliché #1

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A nova crónica de Nuno Meneses vai chegar ao FreePass Guimarães mensalmente com críticas de vários filmes que passam pelos cinemas vimaranenses. Neste mês de março temos textos de “The Batman”, “Wheel of Fortune and Fantasy” e “The Lost Daughter”.

THE BATMAN
O The Batman é um filmaço. A introdução do filme é genial. Coloca o espectador naquele universo do Batman instantaneamente e mostra-nos o principal tema do filme. O medo. E o quão importante é o medo na luta pelo poder, na tomada de decisões. Mais do que corrupção, amor ou outros temas secundários, o tema deste filme é o poder do medo.
Finalmente temos um Batman inteligente, muito parecido ao das séries, banda desenhada e jogos. O Batman que mais gosto é o da série de jogos Arkham e este está demasiado próximo.
O filme é visceral em muitos sentidos. Roça o terror e o suspense de uma forma brilhante. Tudo isto é influenciado por uma fotografia muito, muito boa e por uma banda sonora tão diferente que demorei a decidir se era muito boa ou só estranha. É muito boa. O tema do Batman faz lembrar o da marcha imperial, o que coloca o personagem automaticamente no “lado negro da força”. O tema da catwoman é também muito bom. Tudo isto somado às incríveis interpretações dos personagens. Eu adorava o Penguin de Gotham, mas este Colin Farrel está irreconhecível. Paul Dano é maravilhoso como The Riddler. O Robert Pattinson é, para mim, o melhor Batman do cinema. Em relação à duração o filme é gigante, mas… Sempre que pensei em sair para ir à casa de banho e via pessoas a ir esperava que acabasse a cena e pensava sempre “se tivesse saído agora tinha perdido uma parte importante.” Se calhar no final poderia ter menos duas ou três cenas, mas no geral este filme não poderia ser mais curto para a história que queriam contar e para a profundidade que queriam dar às personagens.
Nota: 8,5*

WHEEL OF FORTUNE AND FANTASY
“A terrible coincidence, isn’t it?”
O meu primeiro filme de Ryusuke Hamaguchi, realizador japonês. Curtas muito diferentes, mas todas sobre o amor (e outras coisas).
O realizador tem uma estética muito própria em que o diálogo se sobrepõe a tudo o resto. Planos longos (às vezes demasiado) que nos prendem não pela beleza, mas pelo conteúdo das conversas. A banda sonora é quase nula, mas com um tema muito bonito que conecta todas as histórias: “Von fremden Ländern und Menschen / Argerich” de Schumann. “Magic (or Something Less Assuring)” é a primeira estória. Um triângulo aberto e inesperado. “Door Wide Open” é uma batalha de vontades. A minha preferida. “Once Again”, a última curta, é uma confusão de memória que acontece quando um coração dispara. Um filme muito diferente, que vale a pena ser visto. Quanto mais não seja, pela forma como as personagens nos prendem ao ecrã, conversando sobre os seus passados e presentes. Num país tão conservador, as conversas fazem-nos pensar que não somos assim tão diferentes.
Um filme sobre coincidências, boas e más, e das consequências que advêm das decisões que tomamos. Todas as personagens principais (e quase todas as secundárias) são mulheres e que bom que isso é. Finalmente temos perspectivas diferentes no cinema. Que o cinema sirva também e sempre para conseguirmos ver o mundo pelos olhos dos outros, e nos identificarmos universalmente.
Nota: 7*

THE LOST DAUGHTER
“We are obliged to do so many stupid things. From childhood even.”
Desconfortável qb. Mais uma história sobre a maternidade, mas pelo lado negro e sufocante. Quando cheguei à sala de cinema senti que algo não estava certo. O ecrã parecia mais pequeno. Quando o filme começou percebi porquê. O formato do filme não era o habitual retângulo (16:9), e também não era o quadrado (4:3), parecia mais “apertado”, um 1.66:1. Até no formato Maggie Gyllenhaal fez a escolha acertada. Este formato que não nos é natural faz com que nos sintamos claustrofóbicos desde o início, tal como a personagem. Olivia Colman é, como sempre, incrível. Arrasta-nos para a vida de mais uma personagem com um passado e vida reais.
A banda sonora de Dickon Hinchliffe é também muito boa e ajuda-nos a entrar no mundo daquela mãe que alongou uma depressão no tempo e se revê no mundo paradisíaco e cruel que a rodeia.
Nota: 8,5*

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