Críticas Cliché #4

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Está a terminar o mês de junho e tempo é para mais umas “Críticas Cliché” do vimaranense Nuno Meneses no que toca ao mundo do cinema e dos documentários.

Mensalmente o músico e videografo Nuno Meneses gasta o seu preciso tempo em analisar ao pormenor aquilo que vai apanhando tanto nas sessões do Cineclube de Guimarães como nos cinemas comerciais. Há sempre tempo para falar também sobre as plataformas e tudo isto termina com uma classificação (nunca inferior a uma estrela).

Chip ‘n Dale: Rescue Rangers (2022) | Disney +
“Life is the worst. Which is why you need good insurance.” – Chip

O novo filme dos Chip ‘n Dale (em português Tico e Teco) é hilariante e demasiado bom. Não sei bem como, a Disney permitiu que este filme fosse feito. E ainda bem. O realizador e guionistas levam ao limite o que é permitido fazer com os desenhos animados da Disney (e não só!). Tantas referências, de tantas produtoras. E não são distrativas, porque, ao contrário do mais recenteSpace Jam, todas elas aparecem como parte da história e daquele mundo e não como catálogo da produtora. É uma pena que não tenha saído no cinema. Não é que seja o melhor filme de sempre, mas é realmente muito divertido, e iria levar muita gente às salas.

Um filme para miúdos, mas especialmente graúdos. Com muitas mensagens típicas de um filme do género, mas que passam com uma facilidade enorme. Um filme ao jeito de “Quem Tramou Roger Rabbit”. Nunca pensei que outro filme conseguisse o que o que este último conseguiu. Este não supera, e a história se calhar não é tão boa, mas é a prova de que o género funciona e há gente que o sabe escrever e realizar.

A animação? Nunca vi tantos personagens animados de formas tão diferentes interagirem na mesma cena. CGI, Stop Motion (ou a parecer), 2D, 3D, imagem real, tudo atirado para uma misturadora mágica e que por alguma razão não dá um sumo com mau sabor. A banda sonora está muito boa. Por várias vezes ao longo do filme, Brian Tyler deixa muitas vezes a sua homenagem à música original da série. E dá nostalgia.

Conseguiu superar as minhas expectativas, principalmente por não ser um reboot ou remake ou remaster. Conseguiram pegar em personagens que eu (e acho que muita gente) adorava e refrescá-las. É uma história já muito contada, mas ao mesmo tempo nova e arriscada. Por tudo isto, aconselho mesmo a verem Chip n’Dale, com toda a família.

8*

Putin’s Witnesses (2018)
A história de como Putin chegou ao poder.

O filme de 2018 de Vitaly Mansky narra na primeira pessoa como, a 31 de Dezembro de 1999, e após a resignação inesperada do presidente Boris Yeltsin, Vladimir Putin se torna o presidente da Federação Russa. O realizador segue o presidente durante o primeiro ano de exercício e documenta assim a sua ascensão ao poder. Um testemunho com vista privilegiada para o que aconteceu.

Pelo que parece, ninguém contava que o atual presidente se transformasse naquilo. Um filme que se vê a correr e que nos mostra uma perspectiva diferente de Putin, quando ainda seguia uma ideologia diferente, mas já com “ideias estranhas”. Gostei muito das conversas entre Putin e o realizador, e perceber como o discurso dele foi sendo alterado.

7*

Jurassic World Dominion (2022)
Mas que bela surpresa.

Depois de tantas críticas terríveis estava à espera do pior filme da saga. Longe disso. Quando começou fiquei bastante perdido; confesso que não me lembrava de nada dos anteriores (talvez porque não foram tão marcantes assim, ou apenas porque passou muito tempo). A premissa é básica: pais perdem a filha e fazem de tudo para a reencontrar. Contudo, não quer dizer que seja mau. Isto é um blockbuster de pipocas e não uma metáfora para o que poderá ser o futuro do mundo (embora por vezes até tente deixar alguns pensamentos no ar). Posto isto, a partir daqui só consigo dizer bem do filme.

Começamos pelas sequências de ação. Todo o filme é uma enorme sequência de ação com stunts e efeitos especiais maravilhosos. Ao estilo de Uncharted, o filme não pára nunca e, ao contrário de todas as críticas que li, o tempo não me incomodou; as horas passaram a uma velocidade alucinante. Estava preso ao ecrã e queria ver mais daquilo; todos sabíamos como ia acabar, não esperava nenhum twist, e mesmo assim fiquei colado e agarrado àquela aventura. Em diversos momentos temi pela vida dos personagens, não pela história em si, porque não me importava muito com eles como aquela personagem específica, mas porque a cena em si criava tal suspense e aflição que ficava agarrado à cadeira à espera do próximo susto.

Perseguições em cidades com motos e dinossauros? Alguém já fez isto? Que eu me lembro não. Um filme muito mais arrojado do que qualquer outro da série. A fotografia é muito bonita e consegue em diversas alturas, transportar-nos para momentos mágicos entre animais, humanos e dinossauros. A música é uma adaptação e reinterpretação de Michael Giacchino melhor ainda do que a que fez nos últimos dois filmes. E os puppets? Voltaram! E é tão bom não ser tudo CGI. Maravilhoso. Fan Service qb. Saí do filme com vontade de rever toda a saga.

Vejam no cinema ou em casa e depois digam de vossa justiça.

7*

Doctor Strange in the Multiverse of Madness (2022)
“Every Night, The Same Dream, And Every Morning, The Same Nightmare”

E não sei como não tive pesadelos. É difícil falar de um filme destes sem fazer spoilers, mas vou tentar. Colocamos os óculos 3D (IMAX). O filme começa. As pernas começam a tremer. O chão foge. A primeira vez que me senti a cair numa sala de cinema. O filme começa assim, sem se justificar. O que é ótimo, porque já conhecemos as personagens (será que conhecemos?). E faz uma introdução perfeita ao que vamos ver: um filme de aventura e magia, com muita ação e que não pára. Sam Raimi consegue aqui uma mistura incrível de fórmula Marvel com magia e terror. É um filme mais arriscado, sem medo de ter que se justificar. Com uma fotografia e cores muito bonitas (e diferentes) este é um filme diferente, e talvez por isso não esteja a ser tão aclamado. Os movimentos de câmara são incríveis; os cortes entre universos executados na perfeição. E a primeira viagem entre universos… ufa! Que viagem inacreditável esse minuto de saltos – tantas referências, tantas formas e fórmulas diferentes. Se isso foi um teaser para a possibilidade do multiverso, então venha ele. Ainda sobre os aspetos técnicos, Danny Elfman consegue acompanhar toda a loucura de uma forma mágica que só ele sabe. Aquela batalha com notas/música clássica é genial.

O “multiverso da loucura” é um título mais profundo do que à primeira vista parece. Não estamos apenas perante a confusão do que pode ser este novo universo da Marvel, mas o multiverso de emoções, incluindo “loucura” (“multiverse of madness” funciona melhor) que passamos quando não estamos bem. Embora seja um filme sobre Doctor Strange, é Elizabeth Olsen quem se sobressai. Sob um manto de terror dissimulado e imaginativo, Sam Raimi consegue aqui a proeza de criar um filme “assustador para maiores de 13”. Não é o melhor filme da Marvel, mas (ao contrário das críticas) está muito longe de ser o pior. Eu gostei.

7*

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